quinta-feira, 15 de março de 2012

Celebração da desconfiança

No primeiro dia de aula, o professor trouxe um vidro enorme:

– Isto está cheio de perfume – disse a Miguel Brun e aos outros alunos. – Quero medir a percepção de cada um de vocês. Na medida em que sintam o cheiro, levantem a mão.

E abriu o frasco. Num instante, já havia duas mãos levantadas. E logo cinco, dez, trinta, todas as mãos levantadas.

– Posso abrir a janela, professor? – suplicou uma aluna, enjoada de tanto perfume, e várias vozes fizeram eco. O forte aroma, que pesava no ar, tinha se tornado insuportável para todos.

Então o professor mostrou o frasco aos alunos, um por um. Estava cheio de água.

(Celebração da desconfiança)

Fonte: GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: LP&M, 2002, p.156

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